Voltando ao tema educação, vamos avaliar o resultado divulgado recentemente pela Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização), que traça um perfil do primeiro período de aprendizado em nossas escolas...
Na Prova ABC, aplicada no começo deste ano, participaram 6 mil alunos de 250 escolas, apenas das capitais. São alunos do 3º ano (antiga 2ª série) do ensino fundamental de escolas públicas e privadas.
Ao todo foram 20 questões (de múltipla escolha) avaliando os conhecimentos em leitura e matemática. Uma redação, com a proposta de escrever uma carta a um amigo contando sobre as férias, também fez parte da avaliação.
Analisando os resultados, uma professora da Faculdade de Educação da UFMG afirmou que as escolas estariam “produzindo crianças escolarizadas que são analfabetas”. Isso faz sentido? Pode apostar que sim.
Na média nacional, 56,1% dos alunos tiveram desempenho satisfatório em leitura. Em redação, o número cai para 53,4%. Em matemática, a média é ainda mais baixa: só 42,8% dos alunos se saíram bem.
Isso quer dizer o seguinte: cerca de metade (sim, metade) dos alunos de 8 anos não aprende o mínimo necessário nessas competências. Não entendem, por exemplo, para que serve a pontuação em um texto; têm grandes dificuldades para calcular operações simples e não conseguem organizar suas ideias por escrito.
Além das diferenças nítidas entre o ensino público e o particular, a prova também deixou evidente a desproporção na qualidade do ensino em diferentes regiões do país. Em algumas, menos de um terço dos alunos aprendeu o mínimo.
Só para citar duas das dificuldades mais conhecidas, temos a estrutura disponível (acesso à escola, condições das salas de aula, material didático, presença de professores auxiliares) e o número de alunos por sala.
Não quero dar atenção apenas aos resultados da prova – já que ela, além de só considerar as capitais, foi de múltipla escolha, o que certamente escondeu problemas ainda mais graves. Mas quero lembrar, mais uma vez, da importância de um ponto fundamental: a participação dos pais na vida escolar dos filhos.
Já deixei claro nesse blog que o maior problema, no caso da leitura, é o fato de que os alunos não aprendem a ler por prazer, nem na escola, nem em casa. Isso, naturalmente, se reflete na capacidade de escrever – afinal, como alguém pode aprender a redigir um texto corretamente sem ter o hábito da leitura?
Na matemática a história não é diferente. Imagine agora que você é um professor dessa disciplina, diante de 25, 30 alunos ou mais, em uma mesma sala. Você tem que ensinar um cálculo qualquer. No fim da aula, você pergunta se todos entenderam. Alguns respondem que sim. Os outros ficam calados.
Agora, imagine que você é o pai ou a mãe de um dos alunos que estavam na sala. Pergunto: você sabe se o seu filho aprendeu aquele cálculo? Tem certeza disso? Você acompanha o aprendizado dele? Como?
Nesse primeiro ciclo de aprendizado (até os 8 anos de idade), pais e escola precisam se empenhar mais. É claro que isso não é fácil, já que existem restrições por todos os lados (pais trabalham o dia todo, as salas de aula estão lotadas, faltam professores). Mas não existe outra forma de reverter essa realidade.
Esse trabalho em conjunto tem que ser real. Os pais têm que comparecer nas reuniões, perguntar sobre o desempenho da criança, esclarecer dúvidas. E os professores têm que informar, não só sobre o comportamento da sala, mas sobre o que os pais podem fazer para dar continuidade ao que foi visto nas aulas.
Devemos cobrar da escola? Sim. Do governo? Sem dúvida. Mas nunca devemos esquecer da responsabilidade das famílias no processo de aprendizado das crianças. Lembrando a velha propaganda daquela famosa pomada, “não basta ser pai (ou mãe) – tem que participar”.
Leonardo Donato
Referência: jornal O Estado de São Paulo, 26 de agosto de 2011.
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Na Prova ABC, aplicada no começo deste ano, participaram 6 mil alunos de 250 escolas, apenas das capitais. São alunos do 3º ano (antiga 2ª série) do ensino fundamental de escolas públicas e privadas.
Ao todo foram 20 questões (de múltipla escolha) avaliando os conhecimentos em leitura e matemática. Uma redação, com a proposta de escrever uma carta a um amigo contando sobre as férias, também fez parte da avaliação.
Analisando os resultados, uma professora da Faculdade de Educação da UFMG afirmou que as escolas estariam “produzindo crianças escolarizadas que são analfabetas”. Isso faz sentido? Pode apostar que sim.
Na média nacional, 56,1% dos alunos tiveram desempenho satisfatório em leitura. Em redação, o número cai para 53,4%. Em matemática, a média é ainda mais baixa: só 42,8% dos alunos se saíram bem.
Isso quer dizer o seguinte: cerca de metade (sim, metade) dos alunos de 8 anos não aprende o mínimo necessário nessas competências. Não entendem, por exemplo, para que serve a pontuação em um texto; têm grandes dificuldades para calcular operações simples e não conseguem organizar suas ideias por escrito.
Além das diferenças nítidas entre o ensino público e o particular, a prova também deixou evidente a desproporção na qualidade do ensino em diferentes regiões do país. Em algumas, menos de um terço dos alunos aprendeu o mínimo.
Só para citar duas das dificuldades mais conhecidas, temos a estrutura disponível (acesso à escola, condições das salas de aula, material didático, presença de professores auxiliares) e o número de alunos por sala.
Não quero dar atenção apenas aos resultados da prova – já que ela, além de só considerar as capitais, foi de múltipla escolha, o que certamente escondeu problemas ainda mais graves. Mas quero lembrar, mais uma vez, da importância de um ponto fundamental: a participação dos pais na vida escolar dos filhos.
Já deixei claro nesse blog que o maior problema, no caso da leitura, é o fato de que os alunos não aprendem a ler por prazer, nem na escola, nem em casa. Isso, naturalmente, se reflete na capacidade de escrever – afinal, como alguém pode aprender a redigir um texto corretamente sem ter o hábito da leitura?
Na matemática a história não é diferente. Imagine agora que você é um professor dessa disciplina, diante de 25, 30 alunos ou mais, em uma mesma sala. Você tem que ensinar um cálculo qualquer. No fim da aula, você pergunta se todos entenderam. Alguns respondem que sim. Os outros ficam calados.
Agora, imagine que você é o pai ou a mãe de um dos alunos que estavam na sala. Pergunto: você sabe se o seu filho aprendeu aquele cálculo? Tem certeza disso? Você acompanha o aprendizado dele? Como?
Nesse primeiro ciclo de aprendizado (até os 8 anos de idade), pais e escola precisam se empenhar mais. É claro que isso não é fácil, já que existem restrições por todos os lados (pais trabalham o dia todo, as salas de aula estão lotadas, faltam professores). Mas não existe outra forma de reverter essa realidade.
Esse trabalho em conjunto tem que ser real. Os pais têm que comparecer nas reuniões, perguntar sobre o desempenho da criança, esclarecer dúvidas. E os professores têm que informar, não só sobre o comportamento da sala, mas sobre o que os pais podem fazer para dar continuidade ao que foi visto nas aulas.
Devemos cobrar da escola? Sim. Do governo? Sem dúvida. Mas nunca devemos esquecer da responsabilidade das famílias no processo de aprendizado das crianças. Lembrando a velha propaganda daquela famosa pomada, “não basta ser pai (ou mãe) – tem que participar”.
Leonardo Donato
Referência: jornal O Estado de São Paulo, 26 de agosto de 2011.
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