domingo, 8 de abril de 2012

Hachiko

Nesse dia de Páscoa, quando celebramos um momento de reflexão e renascimento, quero lembrar mais uma história que nos faz pensar. Acompanhe...


Hoje, dia 8 de abril, acontece uma celebração em Shibuya, subúrbio de Tóquio, capital do Japão. É o dia em que é lembrada uma das mais fantásticas histórias de amizade já contadas, entre um cachorro da raça Akita (chamado Hachiko) e seu dono, Hidesaburo Ueno.

Ueno, professor da universidade de Tóquio, adotou Hachiko ainda filhote, em 1924. Começava ali uma grande amizade. Morador de Shibuya, o professor Ueno caminhava diariamente até a estação de trem para pegar a condução para o trabalho.

Hachiko, depois de um pouco mais crescido, passou a acompanhar o dono. Pela manhã, os dois caminhavam até a estação juntos. Ueno entrava na estação e o cachorro voltava para casa.

O interessante é que Hachiko sabia exatamente a hora em que seu dono chegaria à estação, de volta do trabalho. Ele, então, saía de casa sozinho todas as tardes, ia até a estação e se sentava de frente para a porta por onde saíam os usuários do trem que chegava.

E o professor era recebido com todo o carinho assim que saía pela porta. Essa rotina durou pouco mais de um ano.

Foi quando no dia 21 de maio de 1925, Hachiko, como sempre, saiu de casa em direção à estação para esperar seu grande amigo. Sentou-se e esperou. As pessoas que chegaram no trem daquele horário saíram da estação, mas nenhuma delas era o professor. Chegou o trem seguinte, outro trem e mais outro. E nada do professor chegar.

Ele não chegaria. Hidesaburo Ueno havia sofrido um derrame fatal, poucas horas depois de se despedir de Hachiko na porta da estação, quando foi trabalhar.

Mas a história não termina aqui.

Hachiko, na esperança de rever seu amigo, manteve essa mesma rotina: todos os dias, no mesmo horário, ele ia até a estação, sentava-se em frente à porta de saída e esperava. E assim foi por quase dez anos, quando no dia 8 de março de 1935, Hachiko, já debilitado pela artrite, com pouco mais de 11 anos de idade, foi encontrado morto.

A história de Hachiko foi publicada por um jornal local em 1933, quando o cão, ainda vivo, mantinha sua incansável espera. Antes de morrer, também foi homenageado com uma estátua de bronze em Shibuya, perto da estação. A história ganhou o mundo, virou livro e também filme.

Essa história fantástica nos faz pensar: o que tornou tamanha demonstração de amizade possível?

Já me disseram que a coisa mais importante em uma amizade é a fidelidade. Discordo. Fidelidade não tem tanto a ver com pessoas. Tem a ver com valores, com princípios, com um compromisso. No dicionário, fiel é aquele que é leal e honrado, mas é também aquele que não falha; que é seguro; pontual, exato*.

Em relacionamentos, ninguém é 100% seguro. Ninguém é infalível e exato o tempo todo. Ninguém. Por isso, o mais importante, não só em amizades, mas em qualquer relacionamento, não é a fidelidade. É a reciprocidade. É a troca mútua. É o dar e o receber.

Hachiko jamais esperaria por alguém com quem não tivesse uma relação especial. Seu comportamento foi uma resposta ao carinho que recebeu do professor Ueno. Por mais fiel que um cão possa ser, ele só demonstra tamanha devoção por alguém que faz a diferença. Alguém que não é perfeito, mas faz o que pode.

Existem casais que não se amam (apenas se toleram). Empresas onde os sócios se detestam e os funcionários não se suportam. A fidelidade até existe, mas repare: as pessoas, nesses exemplos, são fiéis ao compromisso que firmaram, mas o relacionamento não existe – e muitas vezes acaba de vez, por falta de reciprocidade.

O que quero dizer é que a história de Hachiko nos faz pensar sobre o que queremos de fato dos nossos relacionamentos e, principalmente, o que estamos fazendo para tornar isso real.

Há mais de dois mil anos, Jesus Cristo, razão maior da celebração da Páscoa, deixou o seguinte mandamento: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Histórias como a de Hachiko e seu dono só confirmam esse ensinamento: você quer ser amado ou amada?
Ame.

Não espere apenas por fidelidade. Busque reciprocidade.

Leonardo Donato

* Definição da palavra fidelidade: Dicionário Aurélio (1993).
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